Só na gelada. Você se lembra de quantas cervejas bebeu em 2022? Só no último ano, a indústria cervejeira vendeu o equivalente a cerca de 74 litros do produto por brasileiro. Foram 15 bilhões e 400 milhões de litros, o suficiente para abastecer com dezenas de litrões a população de aproximadamente 207 milhões de habitantes do País, calculada pela estimativa mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo levantamento, o volume de cerveja foi o maior pelo menos desde 2014, de acordo com dados compilados pela empresa de pesquisa de mercado para o Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv). O número representa um crescimento de 8% em comparação a 2021, quando o volume foi de 14 bilhões e 300 milhões de litros.
Com o salto, a cadeia cervejeira faturou R$ 277 bilhões e 400 milhões em 2022, 19,8% a mais que os R$ 231,6 bilhões faturados no ano anterior. O Sindicerv avalia que a alta de vendas foi impulsionada pelo retorno de grandes eventos, como torneios esportivos e festivais de música, após os anos de restrição da pandemia de Covid-19.
Como é habitual no mercado, Skol e Brahma lideraram as vendas. Outro destaque apontado pelo Sindicerv são as cervejas sem álcool. As vendas cresceram 37,6% em um ano e alcançaram 390 milhões de litros.
A alta de consumo não foi freada sequer pelo aumento de preços, que ficou acima da inflação acumulada em 12 meses em dezembro de 2022. A cerveja para consumo em casa ficou 9,37% mais cara e o preço da compra fora, 6,42%. Para este Carnaval, o consumidor já pode preparar o bolso também, já que pelo menos a Heineken acaba de aumentar o preço do rótulo.
Vixe. O Carnaval é um momento de muita festa e descontração quando também, eventualmente, muitas pessoas extravasam e cometem alguns exageros como beber em excesso. Apesar dos episódios de intoxicação alcoólica apresentarem uma redução significativa de 36% durante o sábado de Carnaval em Salvador, a alcoolemia continua sendo responsável por uma das principais causas dos atendimentos em saúde nos módulos instalados nos circuitos. No terceiro dia de folia, das 693 ocorrências registradas, 70 foram motivadas por intoxicação alcoólica, o que corresponde a 10% das admissões.
“As ações de preventivas da Vigilância Sanitária praticamente retiraram das ruas essas bebidas artesanais como príncipe maluco, capeta e outras não autorizadas e que possuem componentes desconhecidos que podem de forma súbita levar a embriaguez. Isso contribuiu para redução contundente nos casos de alcoolemia nos postos, mas o excesso de álcool ainda continua figurando como uma das principais demandas nos postos”, pontuo Ana Paula Matos, vice-prefeita e secretária municipal da Saúde.
Outro dado tem chamado a atenção das equipes de saúde que atuaram na folia momesca. Dos 70 episódios de alcoolemia registrados nos módulos de saúde no sábado, dia 18/2, 44 casos foram relacionados ao sexo feminino (63%). O indicador confirma o último levantamento feito pelo Ministério da Saúde, publicado em 2021, que afirma que as mulheres soteropolitanas são as que mais consomem álcool de forma excessiva em todo o país.
A médica infectologista Adielma Nizarala chama atenção para a diferença de bebidas escolhidas para consumo. “Sabemos que algumas mulheres têm preferência por bebidas mais adocicadas que, em via de regra, possuem maior teor alcóolico que a cerveja, por exemplo. E, claro, que as bebidas mais fortes vão acelerar o processo de embriaguez se utilizadas com excessos”, explicou. Ainda de acordo com a especialista, manter uma boa alimentação e a hidratação podem minimizar os efeitos do álcool no corpo. “Primeiramente, é importante que aquelas pessoas que vão fazer uso de bebidas alcoólicas não exagerem na dose. Intercalar o uso do álcool com a ingestão de água evita a desidratação, que pode potencializar o efeito de embriaguez. Também é importantíssimo estar bem alimentado e evitar o jejum antes de ir à festa”, explicou.
Se ligue. Após queda nas exportações durante a pandemia, o setor produtor de cachaça já vinha mostrando recuperação em 2021, mas agora tem motivos maiores para comemorar. O setor registra, este ano, um recorde no valor exportado. Foram US$ 18,47 milhões exportados, o maior valor dos últimos 12 anos e 54,74% maior que as exportações de 2021. O levantamento do Comex Stat, o sistema de dados de comércio exterior do governo federal, e compilados pelo Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac), traz dados de janeiro a novembro.
Os números se destacam principalmente por serem de um período imediatamente após os piores anos da pandemia da covid-19 e, mesmo assim, trazerem cifras superiores ao período anterior à crise sanitária mundial. Em 2019, por exemplo, foi registrado um valor de exportação de US$ 14,60 milhões. Os números de 2022 superam os de 2019 em aproximadamente US$ 4 milhões. Houve ainda um crescimento no volume exportado. Foram 8,6 milhões de litros exportados, um aumento de 30,38%.
Para Carlos Lima, diretor executivo do Ibrac, as boas notícias são resultados da soma de alguns fatores, principalmente o retorno das atividades econômicas após a retração provocada pela covid-19. “Acho que isso se deve a um momento de retomada pós-pandemia. Apesar de termos tido um crescimento no ano passado, a volta efetiva dos bares e restaurantes trouxe um otimismo no mercado”, disse à Agência Brasil. Lima também atribuiu a retomada dos eventos como um fator de influência nesses números.
Atualmente, a cachaça é exportada para 72 países. Em termos de valor exportado, os principais são os Estados Unidos, Alemanha, Portugal, Itália, França e Paraguai. Este ano trouxe, inclusive, um aumento significativo na participação de alguns desses países, que até então não estavam entre os principais mercados. Portugal mais que dobrou nos valores de cachaça importada do Brasil e a Itália teve um aumento de 180% nas cifras.
Lima entende que as ações de promoção da cachaça como um produto para exportação também contribuíram. O Ibrac realiza com a Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) um projeto de promoção de exportação da cachaça. Consiste em ações de promoção da cachaça e com proteção da denominação da cachaça como uma marca.
Micro e pequenas empresas, inclusive, têm sido inseridas no mercado internacional no contexto desse programa. A intenção do Ibrac é aumentar a base exportadora e manter os bons números nos próximos anos. “O Ibrac vem ao longo dos últimos anos investindo em ações de imagem da cachaça e promoção de oportunidade da cachaça. Empresas já investem há alguns anos no mercado internacional, e agora o país está desfrutando disso”, disse Carlos Lima.
Lei seca. Pelo menos nove Estados anunciaram que vão restringir a venda de bebidas alcoólicas no dia das eleições para evitar perturbações durante a votação. Nestes Estados, a Lei Seca vai valer para o domingo, dia 2/10, primeiro turno do pleito, e em 30 de outubro, no caso de um segundo turno.
Até o momento, Acre, Amazonas, Ceará, Roraima, Rio Grande do Norte, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Paraná e Tocantins já anunciaram a proibição. As demais unidades da federação ainda avaliam a possibilidade de adoção da Lei Seca.
No Amazonas e no Ceará a proibição começará a partir à 0h de domingo e permanecerá até às 18h do mesmo dia. Em Roraima, a Lei Seca valerá das 23h de sábado, dia 1º/10, até às 19h de domingo.
No Mato Grosso do Sul, fica proibida a venda de bebidas em bares, restaurantes, lojas de conveniência, hotéis e lanchonetes. A restrição será aplicada entre as 3h e 16h de domingo.
Os estados informaram que vão fiscalizar o descumprimento da Lei Seca. Quem não respeitar a proibição poderá ser preso em flagrante por desobediência e descumprimento de ordens da Justiça Eleitoral.
Umas e outras. Uma pesquisa encomendada pelo Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig) ao Datafolha mostrou que 55% dos brasileiros com mais de 18 anos de idade consomem bebidas alcoólicas, sendo que 32%, ou seja, um em cada três indivíduos, consome semanalmente. Desses, 44% consomem mais de três doses por dia ou ocasião e nesse grupo 11% consomem acima de dez doses por dia. A dose padrão à qual a pesquisa se refere é a de 14 g de álcool puro, o que corresponde a 45 ml de destilado, ou 150 ml de vinho ou a uma lata de cerveja.
Realizado em setembro, o levantamento revelou ainda que entre aqueles que afirmam consumir de uma a duas doses de álcool por dia ou ocasião, as mulheres (42%) consomem mais do que homens (32%) e mais do que a média nacional (37%), assim como pessoas acima de 60 anos de idade (52%). Segundo a pesquisa, à medida que aumenta o consumo por dia, diminui a faixa etária, sendo de 10% e 12% entre pessoas de 18 a 59 anos de idade, contra 5% entre os maiores de 60 anos de idade.
Entre os brasileiros que consomem três ou mais doses de bebida por vez, 44% são homens, percentual que sobe para 49% entre os homens nas classes AB. A maioria dos entrevistados acredita que o consumo frequente de álcool lidera o ranking de causa tanto do câncer de fígado quanto da cirrose, mas a maioria (56%) negligencia sua saúde quando afirma nunca ter feito exame para avaliar dano do fígado relacionado ao consumo de álcool.
De acordo com o presidente do Instituto Brasileiro do Fígado, Paulo Bittencourt, não existe limite de segurança para o consumo, já que a sensibilidade ao álcool é individual. Entretanto, de modo geral, para pessoas sem doença hepática, o consumo moderado, que é de 14 doses para homens por semana, ou sete doses para mulheres por semana, pode ser considerado seguro. Para aqueles que têm algum tipo de doença ou gordura no fígado o indicado é não consumir.
“Mesmo aquelas pessoas que bebem apenas aos finais de semana, conhecidos como bebedores sociais, têm risco duas vezes maior de cirrose, quando seguem o padrão de consumo caracterizado pela OMS [Organização Mundial da Saúde] como bebedor pesado episódico (BPE), isto é, mais de quatro e cinco doses de álcool por ocasião, respectivamente para mulheres e homens”, diz o instituto.
Segundo o instituto, apesar dos riscos, a maioria das pessoas que consome bebidas alcoólicas não desenvolverá cirrose e câncer de fígado, porque para isso, além do uso abusivo do álcool existe susceptibilidade individual, fatores genéticos e ambientais, tais como doença hepática subjacente, obesidade e diabetes que aumentam o risco de dano hepático pelo álcool.
Paulo Bittencourt alertou ainda para o fato de que o excesso de consumo de bebida alcoólica, ou a popularmente conhecida como ressaca, não pode ser contrabalançado com chás, produtos rotulados como detox ou medicamentos chamados hepatoprotetores, porque essas medicações não oferecem proteção ao fígado contra os efeitos nocivos do álcool.
“A recomendação é pelo consumo moderado e consciente, dentro dos padrões considerados como mais seguros, para quem não tem doença hepática. Entretanto, para quem passou ocasionalmente do limite, é importante compensar o uso abusivo com abstinência de álcool nos dias subsequentes, beber bastante líquido e se alimentar de forma adequada. O uso de analgésicos pode potencializar seus efeitos hepatotóxicos associado ao uso de álcool”, explicou o especialista.
Para diagnosticar a saúde do fígado, o recomendado é que sejam feitos exames de avaliação de enzimas hepáticas (sangue) disponíveis nas redes pública e privada em todos os indivíduos que façam consumo abusivo de álcool, mesmo aqueles com padrão de bebedor pesado episódico.