A política dos extremos


Em outubro de 2018, pelo menos 150 milhões de brasileiros devem ir às urnas para escolher cinco candidatos. Deputados estadual e federal, senador, governador e presidente da República. Todos de muita importância para manutenção do governo e da democracia, mas aqui pretendo me ater aos postulantes ao cargo de mandatário do país. Diversas pesquisas já apontam a liderança de dois nomes extremamente opostos. De um lado o ex-presidente Lula, que deu uma nova inclinada para a esquerda e fortaleceu o discurso do “nós” e “eles”, do outro o deputado federal Jair Bolsonaro, ex-militar ultraconservador e de comportamento agressivo. Lula permanece popular entre a parcela mais carente e continua forte nos estados do Norte e Nordeste. Bolsonaro se vale dos altos níveis de criminalidade que assolam o país e de um eleitorado radical crente na teoria do “bandido bom é bandido morto”.

Na pesquisa realizada pelo Ibope entre 18 e 22 de outubro o petista aparecia à frente com 35% das intenções de voto contra 13% do parlamentar. A candidatura de Bolsonaro, antes vista como estratégia para negociar apoio, é uma ameaça cada vez mais real. Enquanto a de Lula depende da revisão do Tribunal Regional Federal da 4 região, que pode ratificar ou não a condenação do Juiz Sérgio Moro no caso do tríplex.

Mas e os outros 52% que não votam em nenhum dos dois extremos? E essa parcela gigantesca da população que não se identifica com o discurso populista e o de ódio? Esses eleitores que não se enquadram nos extremos serão o alvo principal nas eleições. Por isso cresce a procura por um quadro técnico que se coloque como terceira via, realmente viável, com a permissão da redundância. Alguém capaz de projetar atributos capazes de convencer a população da capacidade de identificar os problemas, apontar as soluções concretas, que consiga governar com maioria no Congresso, seja capaz de acalmar os mercados e dialogar com os extremos radicais.

Nomes como Marina Silva, Geraldo Alckmin ou João Dória, Ciro Gomes e até mesmo o apresentador Luciano Huck são apontados como salvação da lavoura para essa fatia do eleitorado ansiosa por uma política diferente da feita pelos velhos partidos. Este último, mesmo sem estar filiado a alguma sigla, já lidera a pesquisa Barômetro Político Estadão-Ipsos com 60% de aprovação. Mais uma demonstração da busca por algo novo. Algumas siglas até tentam mudar de nome para oxigenar e trazer a falsa sensação de novidade, mas mantêm as mesmas práticas desalinhadas com as leis. É cada vez menor o número de pessoas que votam em legendas para escolher candidatos com quem tenham algum tipo de afinidade.

A falta de credibilidade na política é um risco capaz de atrair oportunistas e abrir espaço para o populismo. Uma coisa é certa: o postulante interessado em atrair os votos de centro terá que fortalecer o discurso do caráter e da personalidade. Diversas pesquisas já direcionam para isso ao apontar a corrupção como principal problema do Brasil atualmente. Se antes o clamor era por Saúde, Segurança e Educação, hoje, além disso, o desejo é por algo novo e alguém capaz de reafirmar o compromisso com o bem-estar da sociedade, a começar pelo estabelecimento de valores humanos, exemplos de honestidade e reputação. A resposta e os dispostos a isso, nós só teremos a partir de agosto de 2018, quando começam as convenções partidárias. Que seja alguém que traga o frescor da esperança em seu discurso e a capacidade de colocá-lo em prática.

Emerson Nunes é jornalista, especialista em Marketing & Branding e diretor de conteúdo da Fala Bela Media Training & Comunicação.
emerson@falabelacomunicacao.com.br

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