Há precisamente 196 anos, a união dos cidadãos baianos resultou na libertação do estado do domínio da Coroa Portuguesa, culminando de vez com a Independência do Brasil. Neste ano, a celebração pelo Dois de Julho, data magna do estado, tem como foco a participação popular com a temática “Patrimônio do Povo”. A festividade é organizada pela Prefeitura, através da Fundação Gregório de Mattos (FGM).
Com início às 6h, a programação do desfile da Independência será aberto com uma alvorada de fogos no Largo da Lapinha, seguido do cortejo cívico, que terá a presença do prefeito ACM Neto. A programação contempla ainda o hasteamento de bandeiras realizado por representantes da sociedade civil, autoridades municipais, estaduais e das Forças Armadas, acendimento da Pira do Fogo Simbólico e encontro de filarmônicas.
De acordo com o historiador Francisco Senna, a presença do público nas ruas do cortejo cívico para se manifestar e reverenciar a história travada por batalhas acirradas é motivada pela essência das batalhas: a importância da união popular no processo de luta até a libertação do estado das tropas portuguesas e a permanência do sentimento de missão cumprida pelos baianos.
“O cortejo, essa manifestação de alegria e espontaneidade nunca foi organizada por militares, sempre foi organizada por uma comissão civil. Diferente do 7 de Setembro, o Dois de Julho tem outro foco, com o povo desfilando, se manifestando e vibrando. É uma organização desorganizada, pois não tem cordas, todos participam. É a festa mais bonita da Bahia tanto pela participação popular quanto pelo simbolismo”, detalhou o professor.
Os símbolos do Caboclo e da Cabocla são marca registrada da festa e buscam proporcionar uma reflexão sobre o povo, os habitantes e os herdeiros originais do território brasileiro: os índios. As esculturas em madeira dos caboclos – tanto a original esculpida pelo artista Manoel Inácio da Costa quanto a réplica – representam justamente o povo, o que demostra que a participação popular está intrinsecamente ligada ao movimento que culminou na Independência da Bahia.
Figuras populares históricas – Segundo Francisco Senna, diversos pontos históricos mostram o quanto a participação da população foi imprescindível no processo. Um dos momentos emblemáticos é o assassinato do soldado Tambor Soledade, mártir da Independência. Ele foi atacado por uma canhoneira enquanto comemorava, em Cachoeira, o resultado da votação da consulta de base com os deputados que aprovou a proposta de Independência do Brasil.
Mas há outros nomes tão importantes quanto este registrados na história baiana e que colaboraram nas lutas, a exemplo das guerreiras Maria Quitéria e Maria Felipa. Disfarçada de homem, Quitéria ingressou no Exército para fazer resistência a Portugal. Já Felipa lutou bravamente na Ilha de Itaparica, ao lado de outras marisqueiras, com o auxílio apenas de pedaços de pau e ramos de cansanção.
“Houve a liderança de nobres no movimento, mas quem lutou, foi à frente e deu sua vida a prêmio, foi o povo – brancos mais humildes, negros, índios. Foi o povo quem abraçou a causa e alguns grupos populares se destacaram, como as marisqueiras da Ilha de Itaparica e os boiadeiros de Pedrão que ainda desfilam no cortejo. Foi assim que se constituiu uma luta popular de fato”, destacou Senna.
O historiador complementa que a essência da celebração do Dois de Julho se fortalece a cada ano. “É uma festa rica em simbolismo, registros históricos, monumentos, reúne pessoas de todas as idades, escolas, grupos folclóricos, capoeiristas, baianas e até a classe política. Esse espirito não morre! Tem autenticidade e espontaneidade, todos participam. A história todos conhecem, então é uma festa viva!”, finalizou. Ascom/PMS
Foto: Max Haack/Divulgação/Secom/PMS