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Hortas em comunidades contribuem para saúde mental e bem-estar

domingo, novembro 24th, 2019


Colocar as mãos na terra para plantar, sentir o aroma dos vegetais frescos e acompanhar o desenvolvimento de hortaliças e verduras, por exemplo, pode ser um processo que, além de incentivar hábitos alimentares mais saudáveis, contribui para a autoestima, fortalecimento de vínculos em sociedade e colabora com a saúde mental. Estes são apenas alguns dos efeitos relatados por voluntários que cuidam de hortas ao serem questionados sobre os benefícios da hortoterapia. O movimento vem crescendo nos últimos anos em Salvador com a implantação de hortas urbanas pela Secretaria de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência (Secis).

Em atividade há três anos, a horta urbana situada na Avenida Paulo VI (Pituba), desenvolvida por cidadãos em parceria com a Prefeitura, é exemplo de como um ambiente degradado pode ser transformado e ainda contribuir socialmente. A área de 11,5 mil m², usada anteriormente apenas para descarte irregular de lixo, hoje abriga uma gama de espécies de vegetais, desde árvores frutíferas, plantas medicinais, hortaliças, legumes e verduras.

Em média, são colhidos por semana, aproximadamente, 20 kg de alimentos que são inteiramente doados a instituições que cuidam de idosos carentes de sete locais de Salvador. O trabalho contribui não apenas com o alimento em si, mas com uma alimentação saudável, variada e sem o uso de químicos.

Sensações – Idealizador da horta na Pituba, Wilson Brandão contou que a hortoterapia vai além do cultivo, pois estreita laços humanos e possibilita um olhar mais apurado sobre a vida. “Essa conexão que se estabelece entre as pessoas [voluntários] e o fato de mexer com a terra transforma as pessoas, acalma, tira o foco dos problemas. A gente entra aqui e percebe um clima diferente. Com o tempo, você não consegue mais ouvir o barulho externo do trânsito, por exemplo, porque o barulho dos pássaros, dos insetos e do local em si toma conta”, explica.

Além de refúgio para mais de 30 voluntários que se revezam para cuidar do espaço e de contribuir socialmente com as doações para as instituições, o local ainda recebe grupos de crianças com idade entre cinco a dez anos para promover um primeiro contato com a natureza. A intenção é mostrar a importância da mudança de hábitos que podem preservar o ecossistema.

A aposentada Georgina Tachart, 62 anos, mora no bairro do Rio Vermelho, mas faz questão de colaborar com o projeto e destaca que ele é a própria terapia. “Precisamos de um contato maior com a natureza e, vivendo na cidade, isso é um pouco difícil. Chegando aqui é como se a gente voltasse para a roça, sendo que é dentro da cidade. É uma experiência maravilhosa de sentir os perfumes, respirar o aroma que sai das ervas quando a gente está regando, a gente vê borboleta, passarinhos… É uma experiência visual, olfativa e sensitiva quando a gente lida com a terra”, conta entusiasmada.

Psicossocial – Desde 2017 o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Aristides Novis, no Engenho Velho de Brotas, aderiu à hortoterapia como recurso para dar mais qualidade de vida aos atendidos na unidade. A nutricionista do serviço, Maria de Lourdes Freitas, explica que os benefícios de ter uma horta começam a ser percebidos quando o usuário vê nascer coisas que antes só via na geladeira, na panela ou em gôndolas de supermercados. “Inicialmente nós começamos fazendo educação nutricional, então falávamos dos benefícios de se comer frutas, verduras e legumes, de utilizar os alimentos mais naturais e, a partir da horta, conseguimos aliar a fala com a prática. Eles foram se apoderando da horta, cuidando e levando para casa alguns itens”.

Ela destaca também que usuários com problemas de excesso de peso e hipertensão, por exemplo, já estão repensando o estilo de vida e adaptando a alimentação. Alguns, inclusive, aderiram à prática de ter uma horta em casa. Lourdes explicou que a produção ainda é pequena, mas que os usuários já tiveram a experiência do plantio de itens como maxixe, quiabo, rúcula e até milho.

Para a psicóloga Ana Luiza Rubini, a hortoterapia possibilita uma nova visão sobre si mesmo. Ela explicou que a atividade tem sido muito válida e tem impactado positivamente os usuários da unidade de diversas maneiras. Uma delas é proporcionar a sensação de serem sujeitos pertencentes a um grupo, que não apenas plantam, mas que têm um propósito e sentido com a escolha das mudas. Isso, por exemplo, traz empoderamento a eles sobre a própria saúde.

Hoje é possível encontrar no local vegetais como manjericão, alecrim, cebolinha, hortelã, alfavaca, língua de vaca, alho, boldo, capim-santo e alface. Aproximadamente 20 pessoas utilizam a horta como recurso terapêutico durante a semana. Fonte: Secom/PMS

Foto: Jefferson Peixoto/Divulgação/SECOM-PMS