Canonização de Irmã Dulce vai impulsionar turismo religioso em Salvador

São 5 milhões de pessoas por ano que visitam a Bahia em nome da fé. E Salvador é o principal destino de toda essa gente, principalmente agora, com a canonização da primeira santa brasileira, Irmã Dulce, que acontece neste domingo (13), no Vaticano, e os investimentos feitos pela Prefeitura no segmento, sendo o mais recente deles a conclusão da requalificação da Colina Sagrada, entregue no último dia 4.

Contando que cada um desses 5 milhões de turistas permaneçam ao menos dois dias em destinos sagrados, a movimentação econômica do turismo religioso gira em torno de R$1,8 bilhão na Bahia. Isso porque cada turista gasta em média R$182 por dia. 

Dois dos mais importantes pontos frequentados por este tipo de turista são o Memorial Irmã Dulce, no Largo de Roma, e a Basílica do Senhor do Bonfim, na Colina Sagrada. Por isso, a Prefeitura está implantando o Caminho da Fé, um conjunto de intervenções urbanísticas que irá ligar esses dois pontos da Cidade Baixa através da requalificação total da Avenida Dendezeiros. 

O percurso desse caminho é de 1,1 km e as obras devem durar 12 meses, com investimentos previstos de R$16,1 milhões provenientes de um convênio entre a Prefeitura, Ministério do Turismo e Caixa Econômica. O projeto foi concebido com intuito de priorizar o uso pelo pedestre, com ampliação dos passeios, implantação de novas faixas de pedestre no nível da pista, itens de acessibilidade, nova pavimentação, fiação subterrânea, iluminação em LED, drenagem, paisagismo, novo mobiliário urbano com o uso de totens históricos explicativos e marcos religiosos. 

Trade – Em âmbito nacional, o turismo religioso é responsável por movimentar 20 milhões de viagens em mais de 300 destinos brasileiros, gerando mais de R$ 15 bilhões por ano e sendo, inclusive, um grande incentivador de pequenos negócios e investimentos. Os dados são do Ministério do Turismo. E quando o assunto é religiosidade e fé, Salvador está na lista dos roteiros mais visitados. 

Isso porque, além dos inúmeros terreiros, que também são pontos de atração turística, o município possui 372 templos católicos situados de ponta a ponta da cidade, sendo que muitos desses existem há séculos, revelando memórias e peculiaridades da devoção e fé aos santos. Ou seja, esses templos também são visitados por seu valor histórico e cultural, muitas vezes por pessoas que sequer são cristãs. 

“Antes, o turismo religioso da capital baiana estava relacionado ao tradicional. Ou seja, muitos que vinham de fora para conhecer as praias, a gastronomia e a cultura local faziam questão de tirar um tempo para ir às igrejas. Desde o anúncio da canonização de Irmã Dulce, as agências de viagem, tanto de fora quanto as daqui, começaram a divulgar Salvador como destino religioso”, destacou o coordenador nacional da Pastoral do Turismo (Pastur), padre Manoel Filho. 

O presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (Febha), Sílvio Pessoa, confirmou que há um aumento perceptível pela procura do turismo religioso católico desde a beatificação de Irmã Dulce. “Com a santificação dela, esperamos um crescimento exponencial desse que é um importante nicho de mercado. Outras cidades recebem centenas de milhares de pessoas e aqui não deixaria de ser diferente. A vinda desses visitantes será excelente para a economia e para a população, que vai poder gerar receita e renda vendendo lembranças, camisetas, artigos religiosos etc. Isto é, vamos fortificar a fé e ter um ganho financeiro também”, projetou.

Festas – A vocação religiosa de Salvador também se faz presente nas diversas celebrações aos santos e orixás. A Festa de Santa Bárbara (Iansã, no Candomblé), por exemplo, acontece todo o dia 4 de dezembro às vésperas do verão começar. O que se vê na ocasião é uma multidão de fiéis vestidos de vermelho em cortejo pelas ruas e ladeiras do Centro Antigo da capital baiana. Quatro dias depois, a tradição católica é manifestada com homenagem à padroeira da Bahia, Nossa Senhora da Conceição da Praia, nas ruas do Comércio. 

Outras festas de cunho religioso marcam o calendário soteropolitano, como a de Boa Viagem, Bom Jesus dos Navegantes, Reis, Lapinha, Lavagens do Bonfim e de Itapuã, São Lázaro e Iemanjá. 

Curiosidades – Você sabia que Salvador é o único lugar no Brasil onde há dois túmulos de beatas que podem ser visitados? Um deles, claro, é o da Bem-aventurada Dulce dos Pobres, no Memorial Irmã Dulce, no Largo de Roma. O espaço é uma exposição permanente sobre o legado de amor e caridade do Anjo Bom do Brasil, reunindo mais de 800 peças que ajudam a preservar e manter vivos os ideais da religiosa. Lá também estão os restos mortais da primeira santa brasileira e um simulacro do seu corpo. 

O hábito usado por Irmã Dulce, fotografias, documentos e objetos pessoais dela podem ser vistos no espaço, que ainda preserva, intacto, o quarto onde está a cadeira na qual ela dormiu por quase trinta anos em virtude de uma promessa. Outros fatos marcantes de sua vida são lembrados através de maquetes, livros, diplomas e medalhas. 

O outro túmulo sagrado e acessível à população é o da Bem-Aventurada Lindalva Justo, localizado na Capela do Colégio da Nossa Senhora da Salette, nos Barris. A religiosa foi assassinada em 1993 por um interno do abrigo enquanto cuidava de idosos da instituição. Seu processo de beatificação ocorreu em 2007, pelo Papa Bento XVI. 

E tem mais curiosidade: o Papa João Paulo II foi o primeiro pontífice a pisar no Brasil e veio duas vezes a Salvador. Na primeira visita, ele inaugurou, em junho de 1980, a Igreja de Alagados. Esta foi a única igreja paroquial inaugurada por ele fora de Roma. Onze anos depois, ele voltou à capital baiana e visitou Irmã Dulce, que estava com a saúde debilitada. Secom/PMS

Foto: Divulgação/OSID

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